sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Nós Também Queremos Ser Beneméritos!

Constou, aqui por casa, que, há uns tempos, um Alfenense de Gema tomou súbita consciência dos seus deveres de cidadania e, entrando de rompante na Junta informou estar na disposição de oferecer - i.e. dar (como oferta) -uma área de terreno a retirar de uma propriedade rústica que possui, e que se destinaria à edificação do Centro de Saúde.

O acto foi, obviamente, uma surpresa para os autarcas presentes, já desesperados pela ausência de gestos deste tipo por parte da ingrata população que os tinha elegido. E isto porque uma coisa é pôr o "votinho" na urna e outra, muito mais perturbante, é abrir os cordões à bolsa e ser benemérito.

A verdade, porém, é que o nosso recém-conscencializado Alfenense ali estava a oferecer - i.e. dar (como oferta) - o terreno capaz de resolver a questão da Unidade de Saúde, que há vários anos, se arrastava. Caía dos céus, aquela oferta - i.e. dádiva, cedência - e o Assessor Para Os Imóveis, esfregando as mãos de contente, ponderava já as vantagens económicas - para si e para quem mais merecesse - deste generosíssimo acto.

Certamente escoltado como preciosidade rara, lá seguiram todos para os Paços do Concelho onde um subserviente Arquitecto terá aplaudido a decisão - não só para exaltação do seu ego, mas, sobretudo, para agradar à sua hierarquia.

Não sabemos quem - ou sequer se todos - terá sugerido uma pequena compensação para tamanha generosidade. Coisa pouca, obviamente, sem significado, certamente, como, mais tarde explicaria brilhantemente o Autarca Putativo Presidente. Que não, argumentava o Benemérito, que nada mais fazia do que ressarcir-se de anteriores esquecimentos e que, por isso, não aceitaria, em troca de uma tão simples e insignificante oferta - i.e. dádiva -, o que quer que fosse!

Não concordaram os autarcas e respectivos Assessores. Pelo menos, se dignasse, o Benemérito, aceitar que, a expensas dos Paços, lhe fosse ofertado - i.e. dado (como oferta) - a construção dos acessos e o alvará de loteamento. Coisa pouca, também, obviamente, não mais do que uma meia dúzia de lotezinhos. Magnânimo, o Benemérito, aceitou com a modéstia que o caracteriza.

Apressaram-se, o Arquitecto a desenhar, o Autarca Putativo Presidente a preparar proposta devidamente fundamentada e o Jurisconsulto a dar parecer positivo (aliás, nunca dera nenhum negativo) - não fosse o diabo tecê-las - para logo que possivel, na reunião dos Paços, ser a mesma submetida a votação e aprovada. Como, de facto, veio a ser.

Há quem diga que o Benemérito se fartou de rir (baixinho) pela maneira como levou à pincha aquela súcia, aproveitando sàbiamente a incontrolável obsessão do Autarca Putativo Presidente em querer deixar de ser putativo. Pela nossa parte, não acreditamos em tal descortesia, preferindo crer antes na generosidade dos edis e Assessores. Consta mesmo que, por aqueles Paços foi (tem sido...,é...) frequente a generosa retribuição, em paga de ofertas - i.e. dádivas - vagas, ténues e inconsistentes. Não acreditamos! Invejosos, com certeza!

Não sabemos, cá por casa, o que haverá, de verdadeiramente verdadeiro em toda esta história que nos contaram. De qualquer maneira, já agora, para além de forte conscencialização dos deveres de cidadania, também temos um terrenito, coisa pequena, embora! Como havemos de fazer para oferecê-lo - i.e. dá-lo (como oferta) - de modo a que a súcia no-lo agradeça como ao Benemérito? Entrar, sem mais aquelas, pela Junta dentro? Publicar um anúncio no "Correio" ou no "Jornal Novo"? Arranjar quem assessorie a questão? Cumprimentar o Putativo Presidente? Alguém nos quererá dizer como? Que raio! NÓS TAMBÉM QUEREMOS SER BENEMÉRITOS!
  

4 comentários:

Celestino Neves disse...

Uma visão bem humorada e muito crítica sobre a governação de Alfena e Valongo - neste caso centrada num episódio verdadeiramente "exemplar"da forma de fazer política local com base no embuste.
Não resisti em o surripiar e publicar no meu blog - citando o autor obviamente...
Um abraço, meu caro amigo

Unknown disse...

Grato pelas suas amáveis palavras. Fazer humor não é fácil, mas, como lá diziam os Romanos, "ridendo castigat mores".
Um abraço

António Almeida disse...

Para ser-mos capazes de ser temos que ter, ou edificado ou rural da fonte trabalho tudo vem.
Dito isto, não será fácil sensiilizar quem tanto prazer tem de desdenhar de trabalho feito.
De qualquer forma aceito o passatempo que nos serve desta forma mas na verdade gostaria de conhecer a obra de V. Exª, pois quem assim critica deve ser uma sumidade. António Almeida

Unknown disse...

Exmo. Sr. António Almeida

Agradeço o tratamento de "V.Exa.", mas não se justifica e não era preciso!

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