segunda-feira, 30 de novembro de 2015

BORDALO PINHEIRO, um VISIONÁRIO

Um artigo - que "roubei" ao Jornal da Madeira - do meu Estimado Amigo, o Coronel Ramiro Morna do Nascimento, insigne madeirense, que foi meu Comandante de Companhia no teatro de operações angolano, nos idos de 1965, faz, precisamente agora, 50 anos! 
Enquanto a rádio e a Tv anunciavam os “meandros” duma rejeição pré-concertada a um programa dum governo recentemente eleito, caminhava eu aos zig-zagues, entre cadeiras, mesas e peões, numa das ruas do Funchal. Atento às cabeçadas nos rebordos dos guardassóis da esplanada, descortinei numa montra o “busto” no qual Bordalo Pinheiro imortalizou o “Zé Povinho”. Um dístico dizia “Se queres fiado, toma”. Entre o diz tu que direi eu, “eleitos” discutiam um jogo de “trapalhança” havido no terreno para disputa dum “troféu”, com árbitros sem apito, apoiado por claques nervosas e ruidosas. À noite, no écran da minha Tv, constatei que após discussão e muita retórica, o derrotado no campo seria o ganhador de "bancada" e o vencedor o derrotado. Uma normalidade de quem alguém já dizia “não se governa nem se deixa governar”.

No meio destas safadezas, não sei se a dormir ou a sonhar acordado, no écran da minha octogenária memória reaparecia o busto do nosso Bordalo Pinheiro. Falecido em Lisboa em 1905, aos 58 anos, artista plástico, humanista, crítico e professor e eu acrescentaria, um visionário, um sábio profundo conhecedor das nossas gentes e da complexidade das suas paixões e ambições. A 100 anos de distância, a mais de um século, Bordalo Pinheiro antevia o nosso “modus vivendi”. Matámos um rei e o herdeiro ao trono e implantamos a república. Matou-se um presidente da república e surge o 28 de Maio. Durante 48 anos, "Deus, Pátria e Família", braço e mão direita estendidos. A malta obedecia. Jovens e adultos entoando – "Lá vamos, cantando e rindo, levados, levados sim…" Bota cá, bota lá, mais “honra, serviço, dever, sacrifício”, fartos do "orgulhosamente sós", um grupo de soldados pegou em armas, algumas sem munições. Juntos numa abrilada saíram à rua e, tal qual as ruínas do "Carmo", a governança ruiu. Fora, a ferro e pulso, suportada por um tio-avô que, quebrada a sua cadeira no reino de S. Bento, se transferira para outra do reino de S. Pedro. A turba ao rubro, “saiu à rua” cantando Vila Morena. Nos canos das espingardas da tropa o povo trocaria o “tapa-chamas” por cravos, por acaso rubros. Beijinhos e abraços, um regabofe, nem mais um soldado…; o povo é quem mais ordena. Trabalho pouco, "morte aos patrões" e a quem os acompanhar. Fiados numa "pesada herança" trataram de a aliviar. Cabelos e barbas crescendo na cabecinha do Povo – MFA e os arautos controlando, braço direito ao alto, mão fechada. A malta ululante obedecia. "Povo unido jamais será vencido"; dinamização cultural, reforma agrária, ocupações, nacionalizações, saneamentos. Força, "companheiro Vasco", os SUV tropa fandanga. Os civis, Assembleia cercada, constituição aprovada.

"Há sempre alguém que resiste" e, então, vá de encaminhar a malta para uma fonte que é luminosa, rumo ao socialismo. A república é do Povo não é de Moscovo; a social reacção não passará; o “tipo é fixe”. Os altifalantes gritavam: companheiros, braço esquerdo e mão fechada, ao alto. E a malta obedecia. Um Fax levanta suspeitas, mas a "luta continua" e as armas estavam "em boas mãos".

Um galo de Barcelos do alto do seu poleiro canta, "Paz, pão, povo e liberdade" nos caminhos da verdade. Os descontentes, braço direito estendido e os dedos em V de vitória desafiavam os "ventos de leste". E a malta obedecia. O galinho morto, a turba tremeu. Emerge um militar de Abril, impoluto e austero. Funda um partido, o qual se partiu. O “tio fixe” voltou, com ares e prosa ganhou a cadeira do poder, a Fundação reforça-o.

O povo “encavacado” corteja uma “madrinha rica”. Tempos de barriga farta, abastança. O euro, inaugurações. Todo o mundo bota palavra e opina. Bem falantes, papagaios, pavões e oportunistas na “maior”. A produtividade, as despesas, quem vier que as pague. Chovem as dívidas. Batem à porta da “madrinha”. Uma rica oferenda, um puxão de orelhas e um garrote com o patrocínio do FMI e Troika. “Tro(i)karam-nos” as voltas, apertos, austeridade. A malta "gemendo e chorando", confusa, ergue os braços, dobrando-os pelos cotovelos, à moda de Bordalo Pinheiro – O busto, que já há 100 anos o profetizara. O Homem foi um génio.

Avança a “banda”. Nesta “trapalhança”, quem irá tocá-la? O “povo é sereno”.

Atordoado, despertei. Um turbilhão de ideias. Não sei se dormi, se sonhei acordado. No écran da Tv, a Bandeira Nacional flutuava altiva. Num pódio, um jovem português firme cantava a plenos pulmões a Portuguesa.

Afinal, a chama da Pátria mantém-se acesa e viva. Dei comigo a chorar!

P.S. – E Deus nos acuda se, um dia, de braço estendido e mão em concha, tivermos de abordar, suplicando, um estranho que passa!

terça-feira, 3 de novembro de 2015

INTERREGNO... para Continuar

(1)

(Com a devida vénia ao blogue Estado Sentido, permito-me transcrever um postal da autoria de
 João Almeida Amaral)

Hoje li uma frase, que me fez pensar muito em António Costa e na esquerda caviar que nos rodeia e em alguma direita bacoca : " As pessoas não mudam , elas apenas nunca foram o que nós pensávamos".

A verdade é que esta gente nunca foi honesta, nunca se preocupou com o superior interesse nacional, nunca se interessou pelos menos favorecidos. A verdade é que esse grupo de gente que prefiro não adjectivar, tem vindo a destruir o nosso país desde há séculos. Eles estiveram ao lado de Dª Teresa contra D. Afonso, apoiaram Dª Beatriz contra D. João I , convenceram D. Sebastião a ir para Alcácer Quibir , quiseram ser Franceses bonapartistas, estiveram ao lado de buiça no Regicídio, traíram as nossas tropas em La Lys , denunciaram as posições dos nossos, ao inimigo durante os anos sessenta em Argel , apoiaram o governo do comunista louco Gonçalves e assassinaram Sá Carneiro.

Resta-nos o prazer de podermos olhar para estes quase novecentos anos de história e dizermos: São e foram sempre uns merdosos mas nunca vingaram. Por isso estou tranquilo, os merdosos não vão a lado nenhum.

João Almeida Amaral

(1) A imagem que encabeça o postal representa a Bandeira de Gadsden, ligada ao patriotismo Estado-Unidense, e, mais actualmente, a correntes politicamente (in)correctas.