sábado, 4 de agosto de 2012

Rolão Preto


Com a devida vénia a Legio Victrix

Sinal evidente de como vão mudados os tempos (e os ventos…) desde aquela madrugada sinistra de Abril de 1974 – um grupo de estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa evocou agora nas colunas de "O Dia" a memória de Rolão Preto, recentemente falecido, definindo-o quer como um dos fundadores do Integralismo Lusitano (face à mediocridade reinante e ao desprestigio total das esferas da nova cultura oficial, é tempo - dizem estes estudantes - de afirmar bem alto que à juventude compete determinar, aceitar ou recusar a herança histórica transmitida pela geração integralista) quer também, não o esqueceram, como o animador e o chefe, mais tarde, daquilo a que eles chamam (e, de facto, foi) "a epopeia do Nacional-Sindicalismo".

Como um dos poucos hoje ainda vivos da patrulha inicial do Nacional-Sindicalismo, permita-se-me que muito comovidamente me associe a esta homenagem prestada por jovens que, a menos de três anos do Alcácer-Quibir que reduziu Portugal ao pobrezinho e sufocante rectângulo ibérico, se atrevem (e galhardamente o fazem) a soprar com vigor em cinzas que pareciam mortas, para que se reanime a chama de outrora e volte a aquecer o coração dos portugueses.

De facto, o que foi o papel de Rolão Preto no movimento dos "camisas azuis" (azuis, mas de operária ganga) e o que foi a influência exercida por este movimento no Portugal da década de 30 "são matérias que exclusivamente à História compete julgar". Para que, porém, a História possa pronunciar-se, haverá, então, que não deixar cair no esquecimento, para que intencionalmente haviam sido relegados, nem esses anos da vida portuguesa, nem os homens que durante esse período souberam interpretar e encarnar as esperanças e aspirações do português de então.

Recorda o texto que "O Dia" publica terem-se referido alguns jornais – da esquerda, evidentemente – ao que teria sido "o passado nazi" de Rolão Preto, ao noticiarem a sua morte. Alusão, contra a qual os estudantes protestam.

Efectivamente, iludidos por alguns aspectos exteriores (e secundários) do Nacional-Sindicalismo (tais como a camisa azul como uniforme, a braçadeira encarnada com a Cruz de Cristo, as brigadas de choque, os desfiles mais ou menos militarizados…), alguns teriam sido levados a pensar que se tratou de um movimento aparentado com o fascismo italiano e com o nacional-socialismo alemão: mas o próprio Rolão Preto sempre o negou e já em plena segunda guerra mundial (quando as tropas alemãs triunfavam invariavelmente em todos os campos de batalha e a bandeira com a cruz gamada se desfraldava vitoriosa por sobre quase todas as capitais da Europa) claramente manifestou as suas preferências, recusando-se a ouvir sequer os que lhe diziam ter chegado o momento oportuno para ressuscitar em Portugal o Nacional-Sindicalismo, que as circunstâncias do momento logo identificariam então com o nazismo…

De resto, bastará talvez lembrar a origem ideológica dos que fundaram com António Pedro o Nacional-Sindicalismo e confiaram a Rolão Preto a direcção do vespertino que foi o órgão do movimento – a "Revolução", na sua segunda fase – para termos de concluir que (postas de lado insignificativas semelhanças de estilo e de indumentária) muito pouco ou mesmo nada tínhamos de comum com as ideologias ao tempo imperantes em Roma e em Berlim.

António Pedro militara com o extraordinário poeta que foi Guilherme de Faria numa vaga e romântica tentativa de rejuvenescimento do velho e simpático Partido Legitimista. António do Amaral Pyrrait – alma e verbo de fogo – fora aluno dos jesuítas. António de Sousa Rego – vitimado pela tuberculose com pouco mais de vinte anos – era um leitor quotidiano e atento de Jacques Bainville. António Lepierre Tinoco ainda era "caloiro" da Faculdade de Direito e já lia Georges Sorel. Quanto a mim, familiarizara-me com o pensamento de Maurras antes mesmo de ler António Sardinha. E Júlio Álvares Pereira de Matos chegara-nos de Paris, onde fora (estudante no "Quartier Latin") "camelot du Roi".

Relativamente a Rolão Preto, até assumir a direcção da "Revolução", onde se revelaria um empolgante jornalista, um orador de poderosa garra e um espantoso dinamizador de homens (mas eu sonhei ou houve por aí alguém que o tenha classificado de "pobre diabo"?) apenas publicara um livro, "A Monarquia é a Restauração da Inteligência", mas um livro que figurava na biblioteca de todo o bom integralista, a par das obras de Sardinha, de Pequito Rebelo, de Hipólito Raposo.

Francisco de Paula Dutra Faria in "A Rua", n.º 84, 19 de Janeiro de 1978